Duas metades, cara-metade, a
outra metade...
A gente cresce ouvindo que nasceu
faltando, que sozinho não se basta, que demanda complemento, assim bem transitivo.
Aí a gente sai pra procurar quem nos complete, quem traga a metade que falta,
quem preencha as lacunas.
Eu fui assim. Procurei uma pessoa
sensata, doce, calma, amorosa, delicada e pé no chão pra me trazer tudo que me
faltava. Achei. Pelo menos um punhado de vezes. Amei, fui lá, jurei pra sempre,
tive certeza. E arrastei o cu em caco de vidro (expressão máxima da senhora
minha madrasta) mais um punhado de vezes.
Aí fui me ocupar de mim. Mas pela
força do destino, que me mandou pra longe das minhas referências e certezas do
que por vontade. Comecei a me enxergar de perto, sem espelho, quase que pelo
tato mesmo. E fui me fazendo mais serena, mais doce, menos nervosa (calma já
era demais)... E aconteceu de conhecer alguém que me sobra. Que me acrescenta. Que
não mudou a minha vida. Que não me salvou.
Uma pessoa que fez com que eu
quisesse ser uma pessoa melhor. Que faz com que eu tente todo dia ser o melhor
que eu posso ser, dentro de tudo aquilo que eu já era. Porque se tem uma coisa
que o meu marido me ensinou é que pra feliz, pra se sentir realizado, não basta
ter alguém do lado. Tem que estar bem com quem a gente carrega dentro.