terça-feira, 5 de junho de 2012


Estou sem internet há três dias, devido a um modem quebrado. Pedi o conserto, me garantiram a visita técnica. No dia marcado o técnico não veio, a companhia me garantiu que ele tinha ido, que estava tudo funcionando, que minha internet estava tinindo. Me perguntaram se eu tinha certeza, garanti, segura, senhora de mim que sim, eu tinha certeza.
No dia seguinte, ainda sem internet liguei de novo. A senhora tem certeza? Vacilei. Olhei para o modem. Sem nenhuma luz piscando, a antena abaixada, triste, despido de qualquer virilidade. Repliquei tímida: tenho, tenho certeza, continua quebrado, não veio ninguém.
Mais um dia, ainda sem internet, liguei de novo. A mesma pergunta: Mas a senhora checou? Fiquei muda. Não, não percebi os sinais. Em momento nenhum ouvi a pequena voz sussurrada do aparelho, clamando por ajuda, um abraço, um café quente.
Talvez ele tivesse tentando me dizer, sempre piscando, sempre com seus sinais embaralhados brilhando sem ordem, sem lógica. Estava claro agora, ele sempre esteve perdido.
Talvez maltratado por um amor inconsequente, talvez digerindo uma decisão difícil. Preso numa caixa preta de metal, impossibilitado de dizer o quanto estava sem direção, de gritar socorro, de ter medo do escuro. Chorei, por ele, por mim (tantas noites sem séries, sem sites de fofoca, sem trabalho), por nós. A moça da NET desligou.  
Tenho medo de ligar de novo. De ter que responder pelos erros a mais, eu e o modem. Quem é que vai nos proteger?Sim, continuo sem internet. Não, não tenho certeza de nada. 

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Eu ninho, tu ninhas, nós bagunçamos


Mulheres grávidas sentem uma vontade irresistível, normalmente no fim da gravidez, de redecorarem suas casas, mudando a disposição dos móveis, acrescentando ou removendo objetos. Chama-se esse fenômeno de “construção do ninho”.  Pais de filhos adultos, ao verem suas crias se mudando pra vida, adquirindo independência financeira e imobiliária sentem a chamada síndrome do “ninho vazio”, sofrendo com a falta física e emocional dos rebentos.
Ao adquirir um apartamento novo, um espaço próprio, o novo morador esforça-se para imprimir sua identidade em cada pedaço, seja essa impressão presencial (dançar pelado na sala), seja rebelde (servir coca-cola com a porta da geladeira aberta e jantar Passatempo) ou até mesmo física, através de obras e decoração. Cria-se um ninho, uma incubadora segura para aquela pessoa que aspiramos nos tornar, ou que esperamos que as pessoas acreditem que somos.
Mas existe ainda outro grupo de novos moradores, os recém-casados (juntados, namorados, enrolados, acrobáticos, etc...). Nesse caso, o ninho tem dois donos. Duas vontades, duas criações, dois canais preferidos, duas coleções de objetos que podem (ou não) combinar entre si e conviver em harmonia.
Esse é o meu caso. Quando eu resolvi morar com o meu namorido (soon to be marido de verdade) eu tinha uma visão de como seria a minha casinha, aquela em que as contas viriam com o meu nome e a geladeira teria os meus yakultis. Mas aí vieram as contas de verdade, sim tinham o meu nome, mas isso não as fazia mais fáceis de lidar e os meus yakultis continuaram a desaparecer misteriosamente. No meu conto de housewife acaba açúcar domingo de noite, leite quando eu já tinha começado o bolo e o salário no meio do mês. Existem meias na mesa da sala, produtos de limpeza produzidos com azeite e vinagre (ainda bem que texto não tem cheiro, afe) e TODAS as formas de gelo vivem vazias.
Faz parte, as pessoas não são iguais (graças aos deuses), os sonhos não são pecinhas de quebra-cabeça que um dia se encaixam soltando fogos em forma de corações de glitter. A gente vai dialogando, gritando, ameaçando de morte, se resolvendo, chorando, rindo e aprendendo. Cada dia um cadinho mais.
Até que um dia, não mais que de repente, por uma conversão dos astros digna de Susan Miller, descubro-me dormindo em casa uma noite sozinha. Pra ser mais exata, uma tarde seguida de uma noite e mais metade de um dia. Fico meio apreensiva (meu namorido é gringo, não tá lá muito acostumado a andar sozinho, mas a família, essa querida, tá aí pra isso e todo mundo deu um help) mas meio eufórica, tudoassimaomesmotempo.
Vou dançar Spice Girls, comer brigadeiro, trabalhar a noite inteira sem culpa (é, sou dessas), ver todos os Law and Order, dormir de meia pra hidratar o pé. Quase sinto a cabeça girar de emoção. Mas né, fica de noite, não tem maratona de Law and Order, acabou o leite condensado, a NET, esse pilar de consideração com o cliente e sinônimo da qualidade no atendimento, cortou a minha internet, a sala faz uns barulhos sinistros.
Mas como todo conto de fadas tem fada-madrinha minha mãe traz Mc Donald’s, manda mensagem, oferece colo. Mas eu sou forte, cheia de coragem e fico de guarda na residência. Mas só consigo ocupar o meu lado da cama...