terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Pra ler ouvindo: http://www.youtube.com/watch?v=HWSMdcpgJsw


“Uma vida sem sustos. É o que desejo pra mim. Não estou dizendo uma vida sem decepções, frustrações ou êxtases: sem sustos apenas. Quero aceitar a potência dos meus sentimentos e não ficar embaraçada diante de reações incomuns. Poder receber uma ventania de pé, mesmo que ela me desloque de onde eu estava. De pé, mesmo com medo.”   

Mais um ano de história, mais um ano de vida, de alegria, de amor, de luta, de preguiça, de mudança, de amor. Mas principalmente mais um ano completamente diferente do que eu imaginei, pensei, planejei.
     A gente cresce e aparece com um plano traçado, seja no papel seja escondido no fundo mais escuro da cabeça. Quando eu crescer vou ser assim, vou fazer isso, vou morar naquele lugar e passar a vida com essa pessoa (ou sem pessoa nenhuma).
     Aí a gente muda, de lugar, de pessoa, de roupa, de ideia, de plano, de gosto. Resolve provar um sorvete novo, mudar o caminho do trabalho, a cor do vestido. E dá certo. Dá errado. Dá merda. Dá maravilha. O caminho fica tortuoso, em zigue-zague. A cabeça aumenta cada vez mais a pasta do “e se, quem sabe, talvez”.
     E em momentos como esse em que me encontro (parabéns pra mim, que dia feliz)é inevitável se fazer aquela pergunta: estou aonde eu achei/sonhei/almejei que estaria nessa idade?
     Não, nem perto, nem vendo de longe. Mas também é hora de celebrar como o zigue-zague do caminho me levaram por ventos, lugares e pessoas que me tornaram melhor, mais íntegra, mais forte, mais humana, mas eu. Eu assim, de verdade, com todas as marcas que os erros, acertos, cagadas e paradas trouxeram. Eu, eu mesma. 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Sobre os carboidratos e o amor

  
  
  Querido Carboidrato,

   Desde sempre fomos eu e você, você e eu. Nos momentos difíceis, me confortando, deixando claro que ia ficar tudo bem. Nos momentos felizes me lembrando que tudo pode ficar melhor, que a vida pode sempre ser mais doce. 
     Mas agora, percebo. Você nunca foi leal. Eu te dei meus melhores anos, te entreguei a chave do cadeado da confiança do meu bem maior, te deixei entrar no meu corpo sem ter que pedir licença, sem nunca questionar os teus motivos.
     E como você me respondeu? Me dando uma penca de quilos extras, dor nos joelhos, dobrinhas nas costas, bochechas do Quico. Chegou a hora de dar um basta, me afirmar como indivíduo, reclamar de volta a propriedade de um corpo que você tratou como depósito, seu amante vil e desconsiderado. 
     Mario Quintana disse uma vez que o amor só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser. Eu acreditei em você, achei que você queria me ver feliz, bem, sobrando vida. Você roubou meu ar (literalmente, não consigo mais subir um lance de escadas sem bufar). Mas o espelho te entregou, você sugou o meu melhor e cuspiu isso, essa coisa disforme que eu me recuso a chamar de bunda.
      Vou me recuperar, tenho amigos, família, saquê (poucas calorias). Você vai ser sempre uma lembrança distante, dessas que fazem a caminhada mais suave quando pintam um quadro a óleo na memória da gente. Vou sentir sua falta, posso até fraquejar e acabar te encontrando numa quarta-feira chuvosa debaixo do edredon. Mas você nunca mais vai me controlar, me fazer contrariar todos os meus valores por um encontro sujo numa pastelaria escondida. Acabou. Não me procure mais. Nem quando a padaria da esquina tiver uma fornada fresquinha, obscena, crocante, de miolo farto.

                                                                                          Nunca mais sua,
                                                                                                            Marina.

sábado, 14 de julho de 2012

Metade de mim


Duas metades, cara-metade, a outra metade...
A gente cresce ouvindo que nasceu faltando, que sozinho não se basta, que demanda complemento, assim bem transitivo. Aí a gente sai pra procurar quem nos complete, quem traga a metade que falta, quem preencha as lacunas.
Eu fui assim. Procurei uma pessoa sensata, doce, calma, amorosa, delicada e pé no chão pra me trazer tudo que me faltava. Achei. Pelo menos um punhado de vezes. Amei, fui lá, jurei pra sempre, tive certeza. E arrastei o cu em caco de vidro (expressão máxima da senhora minha madrasta) mais um punhado de vezes.
Aí fui me ocupar de mim. Mas pela força do destino, que me mandou pra longe das minhas referências e certezas do que por vontade. Comecei a me enxergar de perto, sem espelho, quase que pelo tato mesmo. E fui me fazendo mais serena, mais doce, menos nervosa (calma já era demais)... E aconteceu de conhecer alguém que me sobra. Que me acrescenta. Que não mudou a minha vida. Que não me salvou.
Uma pessoa que fez com que eu quisesse ser uma pessoa melhor. Que faz com que eu tente todo dia ser o melhor que eu posso ser, dentro de tudo aquilo que eu já era. Porque se tem uma coisa que o meu marido me ensinou é que pra feliz, pra se sentir realizado, não basta ter alguém do lado. Tem que estar bem com quem a gente carrega dentro. 

terça-feira, 5 de junho de 2012


Estou sem internet há três dias, devido a um modem quebrado. Pedi o conserto, me garantiram a visita técnica. No dia marcado o técnico não veio, a companhia me garantiu que ele tinha ido, que estava tudo funcionando, que minha internet estava tinindo. Me perguntaram se eu tinha certeza, garanti, segura, senhora de mim que sim, eu tinha certeza.
No dia seguinte, ainda sem internet liguei de novo. A senhora tem certeza? Vacilei. Olhei para o modem. Sem nenhuma luz piscando, a antena abaixada, triste, despido de qualquer virilidade. Repliquei tímida: tenho, tenho certeza, continua quebrado, não veio ninguém.
Mais um dia, ainda sem internet, liguei de novo. A mesma pergunta: Mas a senhora checou? Fiquei muda. Não, não percebi os sinais. Em momento nenhum ouvi a pequena voz sussurrada do aparelho, clamando por ajuda, um abraço, um café quente.
Talvez ele tivesse tentando me dizer, sempre piscando, sempre com seus sinais embaralhados brilhando sem ordem, sem lógica. Estava claro agora, ele sempre esteve perdido.
Talvez maltratado por um amor inconsequente, talvez digerindo uma decisão difícil. Preso numa caixa preta de metal, impossibilitado de dizer o quanto estava sem direção, de gritar socorro, de ter medo do escuro. Chorei, por ele, por mim (tantas noites sem séries, sem sites de fofoca, sem trabalho), por nós. A moça da NET desligou.  
Tenho medo de ligar de novo. De ter que responder pelos erros a mais, eu e o modem. Quem é que vai nos proteger?Sim, continuo sem internet. Não, não tenho certeza de nada. 

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Eu ninho, tu ninhas, nós bagunçamos


Mulheres grávidas sentem uma vontade irresistível, normalmente no fim da gravidez, de redecorarem suas casas, mudando a disposição dos móveis, acrescentando ou removendo objetos. Chama-se esse fenômeno de “construção do ninho”.  Pais de filhos adultos, ao verem suas crias se mudando pra vida, adquirindo independência financeira e imobiliária sentem a chamada síndrome do “ninho vazio”, sofrendo com a falta física e emocional dos rebentos.
Ao adquirir um apartamento novo, um espaço próprio, o novo morador esforça-se para imprimir sua identidade em cada pedaço, seja essa impressão presencial (dançar pelado na sala), seja rebelde (servir coca-cola com a porta da geladeira aberta e jantar Passatempo) ou até mesmo física, através de obras e decoração. Cria-se um ninho, uma incubadora segura para aquela pessoa que aspiramos nos tornar, ou que esperamos que as pessoas acreditem que somos.
Mas existe ainda outro grupo de novos moradores, os recém-casados (juntados, namorados, enrolados, acrobáticos, etc...). Nesse caso, o ninho tem dois donos. Duas vontades, duas criações, dois canais preferidos, duas coleções de objetos que podem (ou não) combinar entre si e conviver em harmonia.
Esse é o meu caso. Quando eu resolvi morar com o meu namorido (soon to be marido de verdade) eu tinha uma visão de como seria a minha casinha, aquela em que as contas viriam com o meu nome e a geladeira teria os meus yakultis. Mas aí vieram as contas de verdade, sim tinham o meu nome, mas isso não as fazia mais fáceis de lidar e os meus yakultis continuaram a desaparecer misteriosamente. No meu conto de housewife acaba açúcar domingo de noite, leite quando eu já tinha começado o bolo e o salário no meio do mês. Existem meias na mesa da sala, produtos de limpeza produzidos com azeite e vinagre (ainda bem que texto não tem cheiro, afe) e TODAS as formas de gelo vivem vazias.
Faz parte, as pessoas não são iguais (graças aos deuses), os sonhos não são pecinhas de quebra-cabeça que um dia se encaixam soltando fogos em forma de corações de glitter. A gente vai dialogando, gritando, ameaçando de morte, se resolvendo, chorando, rindo e aprendendo. Cada dia um cadinho mais.
Até que um dia, não mais que de repente, por uma conversão dos astros digna de Susan Miller, descubro-me dormindo em casa uma noite sozinha. Pra ser mais exata, uma tarde seguida de uma noite e mais metade de um dia. Fico meio apreensiva (meu namorido é gringo, não tá lá muito acostumado a andar sozinho, mas a família, essa querida, tá aí pra isso e todo mundo deu um help) mas meio eufórica, tudoassimaomesmotempo.
Vou dançar Spice Girls, comer brigadeiro, trabalhar a noite inteira sem culpa (é, sou dessas), ver todos os Law and Order, dormir de meia pra hidratar o pé. Quase sinto a cabeça girar de emoção. Mas né, fica de noite, não tem maratona de Law and Order, acabou o leite condensado, a NET, esse pilar de consideração com o cliente e sinônimo da qualidade no atendimento, cortou a minha internet, a sala faz uns barulhos sinistros.
Mas como todo conto de fadas tem fada-madrinha minha mãe traz Mc Donald’s, manda mensagem, oferece colo. Mas eu sou forte, cheia de coragem e fico de guarda na residência. Mas só consigo ocupar o meu lado da cama...