segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Resquícios de alguma vida passada: Mudança Gramatical

Pedaço de texto recuperado no meu note antigo: 

                  O que mais me incomoda num pé na bunda não é ficar sem a pessoa “amada”, é a imobilidade, a passividade. Explico: quando você é parte de um casal o pronome predominante é: nós. Nós vamos, nós nos amamos, nós estamos em casa. Quando alguém te dá um pé na bunda retoma ao pronome singular de primeira pessoa (que fala, que impõe, que decide): eu preciso de tempo, eu não sei o que quero, eu não te amo mais. 
                 E o pior, te relega ao papel de segunda pessoa do discurso, o ouvinte, o passivo. A você cabe aceitar, sorrir cortesmente, fingir que não te afetou. A você o panelão de brigadeiro, os erros cometidos numa balada bêbada de vingança, o “título” de ex. 
                 Nada mais amargo do que ver o seu até então complemento conjugando no singular, lépido e faceiro como se risse da sua cara estática, ainda processando a mudança gramatical de estado civil.