terça-feira, 11 de setembro de 2012

Sobre os carboidratos e o amor

  
  
  Querido Carboidrato,

   Desde sempre fomos eu e você, você e eu. Nos momentos difíceis, me confortando, deixando claro que ia ficar tudo bem. Nos momentos felizes me lembrando que tudo pode ficar melhor, que a vida pode sempre ser mais doce. 
     Mas agora, percebo. Você nunca foi leal. Eu te dei meus melhores anos, te entreguei a chave do cadeado da confiança do meu bem maior, te deixei entrar no meu corpo sem ter que pedir licença, sem nunca questionar os teus motivos.
     E como você me respondeu? Me dando uma penca de quilos extras, dor nos joelhos, dobrinhas nas costas, bochechas do Quico. Chegou a hora de dar um basta, me afirmar como indivíduo, reclamar de volta a propriedade de um corpo que você tratou como depósito, seu amante vil e desconsiderado. 
     Mario Quintana disse uma vez que o amor só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser. Eu acreditei em você, achei que você queria me ver feliz, bem, sobrando vida. Você roubou meu ar (literalmente, não consigo mais subir um lance de escadas sem bufar). Mas o espelho te entregou, você sugou o meu melhor e cuspiu isso, essa coisa disforme que eu me recuso a chamar de bunda.
      Vou me recuperar, tenho amigos, família, saquê (poucas calorias). Você vai ser sempre uma lembrança distante, dessas que fazem a caminhada mais suave quando pintam um quadro a óleo na memória da gente. Vou sentir sua falta, posso até fraquejar e acabar te encontrando numa quarta-feira chuvosa debaixo do edredon. Mas você nunca mais vai me controlar, me fazer contrariar todos os meus valores por um encontro sujo numa pastelaria escondida. Acabou. Não me procure mais. Nem quando a padaria da esquina tiver uma fornada fresquinha, obscena, crocante, de miolo farto.

                                                                                          Nunca mais sua,
                                                                                                            Marina.