segunda-feira, 4 de junho de 2012

Eu ninho, tu ninhas, nós bagunçamos


Mulheres grávidas sentem uma vontade irresistível, normalmente no fim da gravidez, de redecorarem suas casas, mudando a disposição dos móveis, acrescentando ou removendo objetos. Chama-se esse fenômeno de “construção do ninho”.  Pais de filhos adultos, ao verem suas crias se mudando pra vida, adquirindo independência financeira e imobiliária sentem a chamada síndrome do “ninho vazio”, sofrendo com a falta física e emocional dos rebentos.
Ao adquirir um apartamento novo, um espaço próprio, o novo morador esforça-se para imprimir sua identidade em cada pedaço, seja essa impressão presencial (dançar pelado na sala), seja rebelde (servir coca-cola com a porta da geladeira aberta e jantar Passatempo) ou até mesmo física, através de obras e decoração. Cria-se um ninho, uma incubadora segura para aquela pessoa que aspiramos nos tornar, ou que esperamos que as pessoas acreditem que somos.
Mas existe ainda outro grupo de novos moradores, os recém-casados (juntados, namorados, enrolados, acrobáticos, etc...). Nesse caso, o ninho tem dois donos. Duas vontades, duas criações, dois canais preferidos, duas coleções de objetos que podem (ou não) combinar entre si e conviver em harmonia.
Esse é o meu caso. Quando eu resolvi morar com o meu namorido (soon to be marido de verdade) eu tinha uma visão de como seria a minha casinha, aquela em que as contas viriam com o meu nome e a geladeira teria os meus yakultis. Mas aí vieram as contas de verdade, sim tinham o meu nome, mas isso não as fazia mais fáceis de lidar e os meus yakultis continuaram a desaparecer misteriosamente. No meu conto de housewife acaba açúcar domingo de noite, leite quando eu já tinha começado o bolo e o salário no meio do mês. Existem meias na mesa da sala, produtos de limpeza produzidos com azeite e vinagre (ainda bem que texto não tem cheiro, afe) e TODAS as formas de gelo vivem vazias.
Faz parte, as pessoas não são iguais (graças aos deuses), os sonhos não são pecinhas de quebra-cabeça que um dia se encaixam soltando fogos em forma de corações de glitter. A gente vai dialogando, gritando, ameaçando de morte, se resolvendo, chorando, rindo e aprendendo. Cada dia um cadinho mais.
Até que um dia, não mais que de repente, por uma conversão dos astros digna de Susan Miller, descubro-me dormindo em casa uma noite sozinha. Pra ser mais exata, uma tarde seguida de uma noite e mais metade de um dia. Fico meio apreensiva (meu namorido é gringo, não tá lá muito acostumado a andar sozinho, mas a família, essa querida, tá aí pra isso e todo mundo deu um help) mas meio eufórica, tudoassimaomesmotempo.
Vou dançar Spice Girls, comer brigadeiro, trabalhar a noite inteira sem culpa (é, sou dessas), ver todos os Law and Order, dormir de meia pra hidratar o pé. Quase sinto a cabeça girar de emoção. Mas né, fica de noite, não tem maratona de Law and Order, acabou o leite condensado, a NET, esse pilar de consideração com o cliente e sinônimo da qualidade no atendimento, cortou a minha internet, a sala faz uns barulhos sinistros.
Mas como todo conto de fadas tem fada-madrinha minha mãe traz Mc Donald’s, manda mensagem, oferece colo. Mas eu sou forte, cheia de coragem e fico de guarda na residência. Mas só consigo ocupar o meu lado da cama...

2 comentários:

  1. O texto ta uma delícia Marina.
    Identificação total

    "Essa é minha vida, esse é meu clube"

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